quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

O CAMINHO SAGRADO DA ERA DAS ÁGUAS DOCES

"Ao adentrar o caminho sagrado dos mito-lendários florestanos, também conhecido como o caminho sagrado das águas doces do Rio Branco, recebemos trajes brancos ornamentados com motivos regionais”.

“Os auxiliares do guia do caminho, explicaram que a troca de roupa, simbolizava o desperta da força encantadora dos botos que todos nós somos, da nossa capacidade de mudar de realidade; de desprender-se dos costumes e adaptar-se a novos costumes”.

“ Falou também da necessidade do desapego as coisas materiais; de revisão dos nossos psico-valores. Fomos instruídos a meditar sobre a importância que damos as coisas que possuímos, e sobre as coisas que desejamos ter, e de buscar dentro de nós as possíveis razões para não deseja essas coisas”.

“Recebemos cajados semelhantes a serpentes, com pequenas cuias de fruto de cabaça, amarradas na extremidade superior. E seguimos para o portal do fogo que dá acesso ao caminho”.

* A cuia tem diversos significados dentro caminho, um deles é o de pedido de auxilio, e aparecer também como elemento simbólico que representa a essência da visão lendológica onde o visível e o invisível, o palpável condensado e o impalpável vibrante, o denso e o sensível são alcançado num mesmo instante. Bem como também a retina da iris ocular, e nesse caso o olho é visto como o ser sendo banhado pela água do rio das visões.
* Existem também informações que as cuias contendo água são utilizadas para ouvir a voz do espirito que sopra na floresta, para isso os nativos costumam deixar cuias contendo água debaixo de grandes árvores no meio da floresta e depois de alguns dias vão até lá para ver o caiu dentro de sua água, pequenos insetos, penas e folhas com seus posicionamentos provocados pelos ventos são traduzidos como mensagens do grande espirito da natureza.

“O portal do fogo fica na entrada de uma pequena estrada de terra batida com duas opções de entradas. Dois guardiões guardam as entradas, cada um segurando uma cuia de Coité contendo água”.

“No meio do portal tem uma tigela de colher látex, contendo fogo. Ao nos aproximar da entrada, o guardião do lado direito levanta a cuia e pedem que peguemos as cuias de cabaça dos nossos cajados e as seguremos enfrente ao nosso corpo. O guardião caminha até onde estamos e enche as nossas pequenas cuias com água, acontece então o ritual do beber água”.

O primeiro gole – É para lembrar que para o ser humano existir, é preciso que tenha água para beber.

O segundo gole – É para lembrar que somos sementes, e que para crescer e germinar é preciso que sejamos aguados diariamente.

O terceiro gole - É para lembrar, que para a vida continuar existindo, é preciso que exista água para beber; Ou seja, água boa, água limpa.

É feita a narrativa da fabulendária Lágrima Cósmica.



UMA LÁGRIMA CÓSMICA


No começo o frio e o calor não se entendiam, esse conflito que parecia não ter fim, a mãe natureza fazia de tudo para pacificá-los, mas só um milagre para resolver aquela situação. Um dia já bastante cansada, a mãe natureza sentou-se num canto, e uma tristeza imensa a envolveu, ela então baixou a cabeça e de seu olho direito germinou uma gotinha de lágrima que rolou pelo seu rosto, e foi cair entre as duas criaturas.

A mãe natureza pensou: - “Coitada dessa frágil criaturinha, vai ser massacrada."

O calor com sua luz abrasadora, aproximou-se da gotinha, mas a gotinha dividiu a luz em varias cores, o calor chegou mais perto, e ela reagiu evaporando e afastando-se, indo em direção ao frio, juntando as partes dilatadas pelo calor, voltou a ser novamente uma poção líquida, o frio tentou envolve-la, mas ela rapidamente reagiu ficando mais densa, o frio aproximou-se ainda mais, ela então solidificou-se escapando e voltando em direção ao calor, e assim então ela ficou, indo pra lá e pra cá, pra lá e pra cá.

E pela primeira vez a mãe natureza sorriu gerando formas lindas que foram se juntar a gotinha. A criaturinha que nasceu de sua tristeza, e que parecia tão frágil, era mais forte que imaginara. Sobrevivia ao ataque do frio e do calor.

E nesse vai e vem da gotinha o frio perceber que existia algo além do frio e o calor por sua vez, percebeu que existia algo além do calor. E a frágil criaturinha tornou-se uma mensageira entre eles, e com o passar do tempo, frio e calor foram acalmando-se e aprendendo a conviver com suas diferenças. E a Mãe Natureza feliz da vida, batizou a gotinha com o nome de planeta Terra, e sorrindo passou a dá vida as mais belas formas e as entregava a gotinha, e a gotinha feliz dá vida dançava, girando pelo espaço. Entre os presentes teve um muito especial ao qual a mãe natureza deu o nome de ser humano, esse presente iria ajudá-la a manter a gotinha sempre bem cuidada e limpinha. E em troca a gotinha cederia parte do seu corpo para os seres humanos solverem e assim sobreviverem e multiplicarem. O tempo e alguns desses seres humanos esquecerem que eram um presente divino, e que tinha a missão de cuidar da gotinha e mantê-la sempre limpinha feliz e em paz girando pelo espaço recebendo os presentes da mãe natureza que não pára de sorrindo. Mas uma grande maioria dos seres humanos continua a reconhecendo a gotinha como uma dádiva preciosa, e tem consciência da responsabilidade que lhes foi dada pela mãe natureza, e assim se organizam tomando atitudes para manterem exito nessa missão, e para isso se reúnem para redigirem documentos para lhe assegurarem a proteção e preservação. E um desses documentos vem de um grupo que no período da transição milênica ficou conhecido como ONU (Organização das Nações Unidas) foi intitulado "A Declaração Universal dos Direitos da Água", tem o seguinte conteúdo:


1 - A água faz parte do patrimônio do planeta. Cada continente, cada povo, cada nação, cada região, cada cidade, cada cidadão, é plenamente responsável aos olhos de todos.


2 - A água é a seiva de nosso planeta. Ela é condição essencial de vida de todo vegetal, animal ou ser humano. Sem ela não poderíamos conceber como são a atmosfera, o clima, a vegetação, a cultura ou a agricultura.


3 - Os recursos naturais de transformação da água em água potável são lentos, frágeis e muito limitados. Assim sendo, a água deve ser manipulada com racionalidade, precaução e parcimônia.

4 - O equilíbrio e o futuro de nosso planeta dependem da preservação da água e de seus ciclos. Estes devem permanecer intactos e funcionando normalmente para garantir a continuidade da vida sobre a Terra. Este equilíbrio depende em particular, da preservação dos mares e oceanos, por onde os ciclos começam.


5 - A água não é somente herança de nossos predecessores; ela é, sobretudo, um empréstimo aos nossos sucessores. Sua proteção constitui uma necessidade vital, assim como a obrigação moral do homem para com as gerações presentes e futuras.


6 - A água não é uma doação gratuita da natureza; ela tem um valor econômico: precisa-se saber que ela é, algumas vezes, rara e dispendiosa e que pode muito bem escassear em qualquer região do mundo.


7 - A água não deve ser desperdiçada, nem poluída, nem envenenada. De maneira geral, sua utilização deve ser feita com consciência e discernimento para que não se chegue a uma situação de esgotamento ou de deterioração da qualidade das reservas atualmente disponíveis.

8 - A utilização da água implica em respeito à lei. Sua proteção constitui uma obrigação jurídica para todo homem ou grupo social que a utiliza. Esta questão não deve ser ignorada nem pelo homem nem pelo Estado.


9 - A gestão da água impõe um equilíbrio entre os imperativos de sua proteção e as necessidades de ordem econômica, sanitária e social.


10 - O planejamento da gestão da água deve levar em conta a solidariedade e o consenso em razão de sua distribuição desigual sobre a Terra.

"As aparências às vezes enganam. Uma gotinha d'gua pode fazer a diferença, um igarapé, um rio, um dilúvio, começa com uma gotinha de água”.

A narrativa da lágrima cósmica apresentada tem um padrão característico do contexto lendológico, fecha com a variação de um dito popular bastante conhecido: "As aparências enganam" existem outras narrativas que utilizam o "Quem vê cara, não vê coração". Esse aspecto do ser no seu estágio liquido também é acentuados no ritual da caverna, no "pingo do olho d'gua na mina de ouro" um conto popular conhecido, mas pouco divulgado.

“A narrativa da lágrima cósmica serve de instrumento para identificação de conflitos interiores e busca do ponto de equilíbrio intermediador dos opostos conflitantes internos.”

No inicio do terceiro milênio, frio e calor eram traduzidos como o bem e mal, e a mãe natureza como sendo o próprio ser. É o tipo de abordagem em que a gota d´gua surgi como um ser iluminado. Isso está nas entrelinhas da narrativa do Lendário Ser Mapinguary que você verá mais na frente. Nele esse aspecto está presente quando o jovem líder enche as bilhas feita de cabaça com pingo da fonte das vertentes de água limpa e leva para lavar os olhos dos nativo de sua tribo, os curando da cegueira provocada pelo poder dos riscos nas superfícies das folhas. É ai que a água ganha o esse aspecto de luz; de ser divino em ação, interferindo e neutralizando resultantes inapropriadas que tiveram origem em acontecimento externo ou importado pelos aldeados, quando a água resolve algo que parecia está acima da capacidade do jovem líder, restaurando a realidade distorcida através da introdução de uma cultura estranha a sua comunidade, e nesse aspecto a água passa a ser confundida com a própria figura do jovem líder, o transporte da água dentro da bilha feita da casca do fruto de cabaça, associa a água a idéia de semente e com essas variações de significados podemos ver a água como um elemento vivo, ganhando força e se revelando como um primordial poderoso, um farol ajudando o nativo a reencontrar o caminho que o leva as suas origens.


Esse aspecto de ser frágil poderoso do ser liquido, também encontrado no pingo d’gua no ritual da caverna do espelho d’gua, do qual vou expor aqui alguns fragmentos:

“De tempos em tempos um jovem era escolhido para ir a grande caverna do espelho d’gua... As gerações se sucediam, e continuava a crença de que um dia a voz da caverna iria se manifestar para um dos jovens da tribo”.

Temos muitas narrativas que envolvem esse espaço simbólico ancestral lendológico. São comuns as variações fabulendárias dessa narrativa. Uma coisa sagrada dentro do lendologismo é a aceitação de todas e qualquer composição narrativas originadas dos elementos que fazem parte do movimento lendológico nativo, muito embora alguns usem método classificatório para ordenar essas composições, distorcendo a postura primordial lendológica, os lendologos muitas vezes não pode deixar de fazer uma espécie de seleção de uma linha narrativas para expo-las, a que se segue esta inserida nessa disposição seletiva do seu narrador.

“...Os anciões resistiam em mandar o jovem líder para caverna, achavam que ele era um sonhador inveterado e portanto não seria capaz de concentra-se o bastante para ouvir a voz da caverna. Mas como era tradição todos os jovens passarem por essa experiência, o jovem líder foi conduzido até a caverna para passar o seu período sagrado no interior dela. Chegando lá, entrou e sentou-se do lado direito da entrada. E ficou em silêncio.
Passado algum tempo ele então ouviu um estalo e em sua mente fez um clarão, e ele ouviu o seguinte dialogo:
- A quanto tempo estavas escondida ai encima ?
- Desde que você começou a pedir ajuda para sair daqui. Seu desejo foi atendido. Eu vim aqui para ajuda-lo.
 Você ? Hora não me faça ri. E o que pensa que esta fazendo criaturinha insignificante, por uma acaso pensavas em me parti ao meio? – Perguntou um voz sólida, dando uma gostosa gargalhada...”

“água mole em pedra dura, tanto bate até que fura ”


Ainda no portal do caminho o segundo guardião vem até onde estamos, levanta a cuia contendo água, e pede para que façamos uma corrente de vibrações positivas para energizar a água contida em sua cuia.

Um ritual acompanhado por palavras de exaltação aos espíritos em harmonia com a natureza, e encerra com agradecimento à mãe das águas pela gestação do líquido precioso que solvemos diariamente.

O guia escolhe um dos participantes e o conduz até tigela que contem fogo, para a passagem simbólica do portal do fogo e entrada no caminho da era das águas.

O caminhante escolhido fica diante da tigela com fogo, e estende os braços para frente, fazendo com que a pequena cuia em suas mãos fique acima da tigela. Em seguida o guardião sugere que incline a cabeça até vê o seu próprio rosto refletido na superfície da água da cuia que tem nas mãos. É feito uma pequena oração, o guardião pega a cuia de Coité com a água energizada e derrama sobre a cabeça do caminhante. O caminhante toma o cuidado para que a água que passa pela sua cabeça caia dentro da pequena cuia em suas mãos, e fica assim até a água transborda e apagar o fogo que está na tigela. Depois disso, um por um dos participantes vão repetindo o ritual. Os guardiões entoam canções de louvor a natureza e fazem a convocação dos espíritos protetores da floresta. Durante as canções, aparece o guia do caminho para nos conduzir através da trilha sagrada.
O restante da água que fica em nossas cuias, é jogado para o alto, para volta para terra em forma de gotículas de chuva. O guia canta uma canção conhecida como OCEANOS SUSPENSOS:

Paisagem a vapores
No céu em movimento
Figuras minerais
Moldadas pelo vento

Ieee, igarapés
Ieee, rios e riachos.

Ouri-ouri, moldadas
Ouri-ouri é do vento o pensamento.
U,u,u,u,u... (musica incidental)

Oceanos suspensos (bis)

Águas de todos os sabores
Orvalhos que molharam flores (bis)
Moldadas pelos ventos
É do vento o pensamento

Surreal em gotículas
Cachos d’gua navegantes
Plumas Belezas liquidas
Gasosas formas mutantes

Repete (2,3)
Que da terra foram ao céu e voltaram ao planeta.
Planeta! (bis) a, a, a, a...


Seguido mais pra frente encontramos uma nativa em frente a um pequeno casebre, com algumas bilhas de cabaça contendo suco de frutas naturais. Cada caminhantes recebe uma bilha. O guia explica que as bilhas são para nos lembrar de durante a caminhada extrair o que a natureza tem de melhor, de mais saboroso, de mais doce.
Retomamos a caminhada cantando e batendo com os cajados no chão, fazendo com que os maracá que estão na parte superior dos cajados, vibrem marcando o compasso da canção, e assim chegamos na primeira parada, conhecida como A GRANDE PORONGA.

OBS. Os detalhes ritualístico do caminho tem uma gama de significados simbólicos. O batismo de água para apaga o fogo e entrar no caminho, está ligado a idéia de renascimento, de começo de nova vida, bem como também a idéia de consumo, que é simbolizado pelo elemento fogo. Os Uiaristas afirmam que o formato do mapa do estado do Acre representação o instante em que se dá a travessia do portal do fogo do caminho das águas, mais precisamente o momento em que água é jogada na cabeça do caminhante. Dizem os Uiarista que o mapa do Acre é o registro geométrico da visão do caminhante, olhando para a água no momento em que ela sai da cuia do guardião, para batiza-los, tornando possível seu acesso ao caminho.

*A palavra Batismo também começa com a letra “B” está associada a idéia de renascer, de nascer de novo, que está ligada ao Boto lendário da seguinte forma:
Quando estamos sendo gerado no ventre materno, nos desenvolvemos dentro de um universo liquido, é o estagio de nossas vidas que somos peixes. Quando nascemos passamos então a fase humana. E a terra passa a ser vista como um útero ao contrário, agora precisamos ir atrás do liquido para continuar existindo. Portanto, mergulha nas águas e emergi, é o mesmo que está renascendo, saindo do ventre da mãe terra. Mas vamos em frente que ainda tem muita coisa interessante pra ver.

A GRANDE PORONGA


É a primeira parada obrigatória do caminho, é uma grande cabana circular escura, com uma grande poronga no centro, semelhante a um altar ornamentado com cuias e pequenas porongas. Sentamos ao redor dela, é feito a convocação das nativas guerreiras do caminho. As nativas chegam trazendo o fogo da tocha sagrada, iluminando o ambiente, revelando belissimos detalhes arquitetônicos escondidos pala escuridão. O guia nos expõe reflexões sobre sombra e luz. E nos ensina uma canção de louvo ao dia:

“Louvai o brilho do sol
Louvai o amanhecer
Louvado dia
Louvai o entardecer”

* Reflexões sobre luz e sombra serão aprofundadas mais na frente, quando entramos em contato com os fragmentos lendários do grito do Mapinguary , que resumidamente é mais ou menos o seguinte:

“Na escuridão todas as coisas são iguais, só quando a luz começa a se manifestar, é que podemos ver o contorno das coisas que estavam ocultas pelo o véu da escuridão, as variedades de formas e texturas cromáticas que na escuridão não eram alcançadas por nossa bio-visão, com esses detalhes podemos fazer uma relação entre o ser humano e luz, quando estamos calados somos todos iguais, ou seja, só somos seres humanos. Mas quando falamos, nos diferenciamos, mostramos os nossos contornos sentimentais emotivos; nossa personalidade; o nosso caráter; as nossas particularidades. Ai a voz se assemelha a luz que invade a escuridão, mostra nossos contornos individuais interiores ao exterior; o que nos diferencia uns dos outros. Quando falamos nós nos iluminamos para que outros vejam os detalhes que só nos temos, ou seja, acendemos nossa luz. E quando essa luz interior, ilumina o interior do nosso próximo, temos o nosso momento de Deus, o nosso verbo se faz luz. Essas reflexões e muito mais vai vamos encontrar no lendário grito do ser Mapinguary.

As nativas entregam uma poronga a cada caminhante. A entrega se assemelha a um coroamento. A líder das nativas acende a grande poronga com a tocha sagrada.

Obs. A poronga apagada simboliza a nossa ignorância diante do universo natural que nos cerca; o caminhar na escuridão dentro da floresta; o caminhar de olhos fechados em meio a riqueza de conhecimentos e saberes naturais que existe ao nosso redor.


“A poronga acesa, simboliza o ser humano que vive e caminha na floresta usando a luz da inteligência para descobrir novas coisas, novas maneiras de lidar com as forças naturais e de interagir com elas, o que resulta na cultura típica dos habitantes das florestas. Tais como as contações de histórias; os causos; as narrativas das proezas dos seres mito lendários da floresta e etc”.

“O caminho é o registro de um instante lendário grandioso, eterno solidificado pelos nossos imemoriais antepassados. A simplicidade sábia que encontramos ai, é uma prova disso”.

As nativas acendem nossas porongas, formamos um circulo em frente a grande poronga, a lendária roda dos contadores de histórias da floresta, onde são estruturadas história coletiva, onde cada um usa a imaginação para complementar narrativa interrompida pelo que está do seu lado. Em seguida vem as narrativas individuais, o guia conta às proezas do jovem líder dos encantados, e expõe uma variação narrativa lendológica que diz respeito a origem do lendário Mapinguary, nos levando a reflexões profundas sobre a organização sistemática intelectual social em que vivemos. É ai que temos o nosso primeiro contato com as narrativas lendológicas, seguidas de comentários complementares que nos dão uma noção do vasto campo sensível que envolve esse componente da nossa cultura popular. Vejamos a narrativa:




O SER MAPINGUARY


”Ao chegarem à pequena aldeia, os aventureiros foram recebidos com uma grande, e resolveram passar alguns dias por ali, e um deles, aproveitando a oportunidade de se aproximar da esposa do jovem líder, fez para ela uma demonstração, de como mandar o seu espírito para outro lugar, e fazê-lo falar através de riscos nas superfícies de folhas de arvore. E com a ajuda dos outros aventureiros, demonstrou que também tinha o poder de ouvir os espíritos de seus amigos que chegavam até ele através de riscos na superfície das folhas. Impressionada com a demonstração, a jovem foi até o espelho d’água, onde o líder e os jovens anciões da tribo se reuniam diariamente.
Chegando lá, relatou para esposo a demonstração de poder que os aventureiros fizeram. O que deixou o jovem líder bastante curioso. Os anciões reagiram com indiferença o relato da jovem esposa, e pediram para tivessem cautela ao lidar com a novidade trazida pelos aventureiros. A jovem esposa insistiu para que o esposo fosse comprovar o que ela estava dizendo, acrescentando que os aventureiros se mostraram dispostos a ensiná-lo como obter o curioso poder de mandar o espírito falar através de riscos nas superfície de folhas, como uma forma de agradecê-los pela acolhida que tiveram na aldeia.
Mesmo contra a vontade dos anciões, o jovem líder foi se encontrar com os aventureiros. E ficou impressionado, com o tal poder manifestando o desejo de aprender ouvir e falar através dos poderes dos riscos na superfície das folhas. Os aventureiros deram inicio aos ensinamentos, pouco a pouco, o jovem líder foi dominando o poder de mandar seu espírito falar e a ouvir através das folhas. Os aventureiros, aproveitando o entusiasmo e dedicação do jovem líder, foram colocando sutilmente entre as folhas que davam para jovem exercitar seu poder, algumas folhas que tinha o poder de se apossar do espírito do jovem líder, e não demorou para que o líder tivesse o seu espírito e seus pensamentos manipulados pelos aventureiros, passando a dar a eles total liberdade para viverem e explorarem livremente suas propriedades, sem incomodá-los ou questioná-los quantos aos objetivos de suas explorações.
O jovem líder ficou tão ocupado, e pouco foi deixando de ir aos encontros diários no grande espelho d'água, para evitar discutir com os jovens anciões, que insistiam para que afastasse o seu povo do estranho poder trazido pelos aventureiros. Mas o jovem líder não dava ouvidos. e não demorou para que tudo na aldeia passasse ser feito e organizado através de folhas de arvores riscadas, e assim os dias foram passando, até o jovem perceber que a sua tribo estava entrado num estado caótico de troca de informações e convivência sócio interativa, e ele já estava quase que perdendo o poder de dirigir seu povo. As folhas riscadas estavam assumindo o seu lugar. E desesperado, um dia aproveitou a ausência dos aventureiros na aldeia, e foi ao encontro dos anciões no espelho d'água, na tentativa de reverter a situação. No encontro, depois de muitas reflexões, os anciões o levaram até a beira do igarapé e o fizeram olhar o seu rosto no espelho d'água, para que pudesse ver o que o tal poder tinha feito com ele. E ele então se deu conta de que o tal poder dos riscos na superfície das folhas tinha o deixado enxergando apenas com um olho e quase cego, e que conseqüentemente ele estava cegado todos de sua tribo com o tal poder.

Ao vê a imagem refletida nas águas, o jovem líder gritou desesperado, porem, de sua garganta sai um urro pavoroso que estremeceu toda floresta. Os aventureiros assustados se embrenham nas matas temendo pelo pior. Os anciões fugiram apavorados sem saber o que fazer para acalmá-lo. Mas a mãe das águas, que acompanhava toda estória bem de perto, se compadeceu do sofrimento do jovem líder, e pediu para que um dos seus lendários encantados fosse ate onde ele estava e o conduzisse ate a grande fonte das vertentes do reino das águas doces, e ali entregou a ele um *olho d'água.

O jovem voltou à aldeia, trazendo vasos de cabaças contendo olhos de águas puras, para lavar os olhos do seu povo e livrá-lo da cegueira produzida pelo poder dos riscos nas superfícies da folhas, aos poucos, todos foram recuperando a visão, e voltando a enxergarem o meio natural em que viviam, como ele realmente era.

Porem, na fuga os aventureiros levaram as crianças e a maioria das mulheres da tribo, inclusive a jovem esposa. Isso fez com que o jovem líder continuasse enxergando apenas com um olho, e para voltar ao normal, ele tinha que encontrar a sua amada e curá-la. E não vendo outra saída, o jovem ancião sai pela floresta a sua procura dela, gritando e assobiando, e esperando por sua resposta. E todo estranho que encontrava em seu caminho, devora com os olhos, pois acreditava que assim estava defendendo e evitando que sua tribo fosse novamente contaminada. Dando origem a um dos mais intrigantes personagem do nosso lendário nativo popular urbano florestal: “ O Ser Mapinguari.”

*Alguns lendologos argumentam, que o olho, dado ao jovem líder, é o olho do deus Odin, que a mãe das águas recebeu em troca de um gole de água de sabedoria.
Odin, é um deus guerreiro escandinavo, amante das artes e poesias.

COMPLEMENTO ARGUMENTÁRIO
O guia nos fala que o Mapinguari, tem uma considerável quantidade de narrativas e traduções, no que se refere a sua origem. Que dentro do contexto lendológico, esses argumentos são acompanhados por comentários dos lendologos que os compõem, ou de algum outro que tenha entrado em contato com a argumentação composta.
*São esses comentários livres, os responsáveis pelas polemizações, aperfeiçoamentos e evolução do que veio a ser aceitavelmente denominado como lendológia.

Segue alguns comentários que acompanham a narrativa do lendário Ser Mapinguary.


Como podemos perceber, a narrativa argumentação lendária tem um aspecto nativo urbano bastante acentuado.
Alguns lendologos defendem a tese, que está narrativa foi o que veio da origem aos relatos sobre a existência de “um paraíso perdido pelos seres humanos”. Um período em que os nativos influenciados pelos aventureiros passaram a cobri os corpos com vestimentas confeccionadas com fibras de algodão.
Acreditam que esse detalhe com o tempo foi sendo aperfeiçoado, e passando então a ser usado como argumentos doutrinários religiosos específicos, de utilidades comunitárias questionáveis.

Dentro do contexto lendacreano, essa narrativa e tida como a fonte da origem de ditos populares e passagens literárias bastante difundidas, entre as nossas comunidades nativas, como por exemplo, a conhecida frase, de tendência moralista popular, que sentencia; “ São cegos guiando cegos”; “Olho por olho... “ ; “Em terra de cego que tem um olho é o rei.” e etc.

Existem também os que reclamam a ausência na narrativa acima, de por menores que ampliam significativamente a argumentação, e cobram a inclusão dos relatos da introdução do uso de cascas de determinadas arvores, como valor simbólico de troca monetária. Feitas sob o controle e fiscalização dos aventureiros dentro da grande aldeia.

* Toda peça do arquivo lendológico autêntico, é acompanhada de fragmentos complementares de sustentação, e em alguns casos de contestação.

Dentro do movimento lendológico florestano da era das águas. Principalmente no que se refere ao Mapinguarismo, tem uma máxima consensual entre os lendologos que diz: “tudo é questionável”.
Um ser mito-lendário, é o registro fragmentado de compromissos de ações comportamentativa e reações emotivas significantes, que auxiliam na resistência e proteção do seres imaginantes nativos e o meio onde se manifesta com suas culturas.

* Para os que adentram o universo lendológico é bom esclarecer que existe uma significativa diferença entre ser mito-lendário e lendas.

As narrativas lendárias normalmente não deixam alicerces suficientemente lógico para que possamos localizar o momento em que ela surgiu. Presente, passado e futuro se confundem. É característico trazerem um tom sapiente ancestral, que transparece envolto por um “sistema intuitivo” de auto defesa intelectual nativo, que faz dos seres mitos-lendários, eternos sobreviventes gloriosos, resistentes a ataques acadêmicos e aos modismos culturais equivocados.
E’ a parti de uma tradução, compreensão, extração e divulgação de um certo grau de entendimento que se tem das lendas e dos seres mito lendários, que um lendologo se manifesta e identifica outro lendologo.

É através das composições dos lendários em linguagem de alcance compreensivo popular, e “intelectual acadêmico superior”, que os lendologos compõem, desenvolvem e divulgam suas propostas, ensaios, justificativas , auto-supremalizações, auto-doutoramento e etc.

É isso que torna possível o reconhecimento e aceitação de seus argumentos narrativos dentro da cultura e do movimento lendológico.

Na lendológia do contexto florestano acreano, o termo lendologo, é normalmente usado para definir, o ser imaginante que domina uma personificação significativa oficial, uma das variantes dos seres mitos-lendarianos, entre eles, a grande serpente, mãe d’agua, boto, mapinguari, curupira e etc. que a parti daí desenvolve seus estudos e compõem seus argumentos narrativos.

Os lendários (argumentos narrativos compostos) que são aceito como instrumento didático pedagógico dos lendologos, tem como característica marcante, sentenças e ganchos gramaticais narrativos estratégico, que servem para desenvolvimento de defesa existencial do lendário, e dos discursos complementares, que vão arrazoando, desenvolvendo e valorizando o seu conteúdo narrativo, visando sempre a utilização popular.

Dentro do pensar lendológico existem variantes e tendências postulares fundamentais de orientação, pesquisa e desenvolvimento. Entre elas destacam-se:


Variações:

Nativo Florestal


Iaraismo
Botoismo
Mapinguarismo
Curupiarismo
Serpentismo (oral, gestual)


Obs. Essas variações são aceitas, como variações intermediarias fundamentais argumentarias, do pensamento nativo lendário autônomo. Mas o numero dessas variações é bastante amplo. Os acima expostos são que oficialmente definem-se como os basilares. Servem de base para os personificadores.


Tendências:

Nativo Urbano


Maracaismo
Camalionismo
Sementismo (ortográfico, simbólico)



Para o reconhecimento e oficialização de um argumento lendológico, os lendologos da extensão lendacreanistas estabelecem, que as narrativas tenham sempre um tom de contação de história.

Essa orientação, tem a função de mecanismo preventivo de defesa da cultura de contação de historia que é bastante popular no nosso meio comunitário florestal e urbano.

A narrativa deve conter no mínimo 4 (quatro) aspectos expressivos das variações citadas acima. Sendo uma originadora, e três de sustentação.

Essas variações são traduzidas e destacadas em forma de pequenos fragmentos expositivos complementares, que devem acompanhar a narrativa do lendário composto. Por exemplo, na narrativa “O SER MAPINGUARY” do lendologo Nosli Nelc, os fragmentos expositivos complementares de sustentação oficializadora são as seguintes:


Das sustentações:


Iaraismo – Na narrativa está clara o aspecto Iarista, pois no iaraismo, ou uiaraismo, como queiram, estão os personificadores da Mãe das águas. O simbolismo e os pontos significativos que eles extraem do ser liquido água, estão ligados a idéia de principiadora, do que dá vida e etc. e a argumentação exposta tem esse aspecto, de principiador, de dar vida a um ser, quando narrar a origem do ser mapinguari. Ou seja, dá vida a ele.

Botoismo – Está presente na narrativa, pois o Bôto está ligado a idéia de transformação do ser; de mutação individual ou de consciência individual e coletiva de mudança de uma realidade ambiental para outra. Esse aspecto é evidenciado no instante em que o líder toma consciência de que os riscos na superfície das folhas estavam ocupando seu lugar. E também está presente na na ação de lavar os olhos do seu povo, fazendo os nativos voltarem a antiga realidade em que vivia a tribo.


Curupiarismo -( O ser mito lendário tem como uma de suas características onírica formal, os pés virados para trás) – Os pés invertidos do(a) curupira está presente na ação dos aventureiro que induzem o jovem líder a seguir numa direção indicada por eles; os seus rastros, que estão ai representados pelos riscos na superfície das folhas, indicando um direção a seguir, mas que no final se revela o oposto.

Serpentismo – Normalmente está presente em toda e qualquer narrativa, pois a serpente é o símbolo da onda; do vibrante etéreo; das sonoridades, e é através destes atributos que entramos em contato com os fatos narrados, ela é o ser intermediador das comunicações, a condutora das narrativas. O poder de encantamento da grande serpente está presente no instante em que a jovem esposa é seduzida pela lábia do aventureiro, bem como também, no poder dos riscos na superfície das folhas. Ou seja, a serpente a encanta, atraída e devorada.





Originadora:

Mapinguarismo – ( O ser com um olho na testa e a boca na barriga) Está presente no aspecto do ser nativo reagindo a uma ação externa qualquer, no caso do fragmento lendário “o ser Mapinguari” Normalmente traz a defesa de um ponto de vista. Atitudes que vão, de pacifica reformadoras, a reacionárias radicais. Dentro da cultura dialética analógica lendária, essa personificação tem como principio a defesa do ser imaginante, seu meio ambiental natural e nativo urbano cultural. No argumento apresentado, transparece a chamada para reflexão, para a questão do aculturamento do nativo étnico e urbano florestano e suas conseqüências meio ambientais, e psico-sociais.



Obs. As exposições acima podem sofrerem alterações auxiliares e amplificarem.

Lendologo é o ser que domina a linguagem (simbólica significativa) ancestral dialética analógica lendária nativa; um personificador.

O GRANDE MARACÁ

Seguimos para a próxima parada somos orientados a colher as sementes que estão pelo caminho. E chegamos numa imensa cabana estilo indígena. No meio da cabana, tem um globo terrestre encima de uma coluna de mais ou menos um metro de altura, a estrutura lembra um grande maracá. Do lado do sol poente jorra uma vertente de água limpa transparente, rodeada por um altar feito de meias cuias de cabaça.
Somos conduzidos até o globo, o guia entoa mais uma de suas canções evocando a mãe natureza, chega uma nativa representando a mãe natureza. Ela entra na cabana e retira a parte superior do globo, revelando a salada de frutas que está na parte inferior do globo. Com uma concha feita de cabaça vai servindo salada aos presentes.
Depois de ingerir a salada de frutas seguimos até a vertente para lavar as cuias. O guia pede para que procuraremos entre as meias cuias que estão exposta no altar, uma que se encaixe a cuia que trazemos nas mãos. Encontrada as partes, o guia pede para que depositemos nas cuias retiradas do altar, as sementes que recolhemos pelo caminho. Somos orientados a ver as sementes como representantes dos nossos sentimentos humanos, o guia então pede para que retiremos da cuias todas as sementes que representem os sentimentos que achamos que não são benéficos aos seres humanos e coloquemos nas cuias que trouxemos. E seguida pegamos um um pouco de água com uma das mãos e deixamos que goteje encima das boas sementes que ficaram nas cuias e joguemos na vertente as sementes que sobraram. Todos recebem ligas coloridas coloridas feitas de látex, e com elas unimos as duas meias cuias, dando forma aos nossos simbólicos maracás sentimentos particulares.


"A mudança de estrutura ou troca de uma semente no interior do Maracá é o suficiente para mudar todas estruturas no cosmo. "

O MARACÁ - Uma das traduções conhecida para a palavra MARACÁ, é de origem indígena e vem do estado de Recife, que quer dizer "a pedra que fala". O conhecido instrumento musical ritualístico indígena utilizado pelos pagés, xamãs, ayuasqueiros ou daimistas como queiram. Sendo que nesses últimos, o MARACÁ é construído com um cabo de madeira tendo na sua estrutura superior composta por um lata metálica produzidas pelas industria de leite e outros laticínios. Dentro do contexto do milênio das águas do lendários Rio Branco, esse instrumento é uma peça fundamental de estruturação argumentária. Vamos encontramos ela sendo utilizada pelo Rei de MARACÁ " personagem e grande anfitrião dos “LENDÁRIOS NATIVOS FESTEIROS FLORESTANOS" .
O MARACÁ como podemos presenciar no caminho sagrado da floresta, é reconhecido como um livro sagrado nativo, um herdado ancestral imemorial, com função iniciática, que ajuda o nativo no sentido de entender o que vem a ser o ser, o centralizando dentro do contexto celeste em que vivemos, podendo sugestiona-lo até chegar a auto supremalização, e se auto-compreender como imagem e semelhança do criador de todas as coisas perceptíveis, usando a seguinte abordagem:

1)A parte superior do MARACÁ é feito do fruto de cabaça, que tem um formato esférico circular.

a) O CIRCULAR é o símbolo do sem principio, nem meio, nem fim. O símbolo do eterno; a representação da eternidade na sua forma geométrica.

b) É através de um pequeno orifício são depositada as mais diferentes sementes, nessa parte superior esférica, que ficam presas ai dentro, vedada por um pedaço de madeira que utilizado como cabo, onde o nativo segura para balançar o instrumento e assim produzir o seu som característico.

*Essas sementes tanto são depositadas aleatoriamente, como de forma ritualística.
AS SEMENTES diferenciadas paradas no interior da esfera, representam o que cientificismo define como CAOS.

AO MOVER O MARACÁ, AS SEMENTES EM ATRITO com a casca do fruto da cabaça, produz uma matéria vibrante, que cientificismo define como SOM. Ai podemos ver que o CAOS que existe no interior da esfera, na momento da inércia do instrumento, com seu movimento produz uma energia harmônica contactável bio-auditivamente. Ou seja, do caos sai a harmonia. Esse evento característico é o que torna possível o acesso a compreensão quando o relacionamos ao todo perceptível bio-visualmente, quando percebemos que tudo que vivenciamose nos é perceptível, é o resultado de micro partículas vibrantes em choques gerando infindas formas palpáveis, que tudo o que contatamos é energia vibrante, e podemos dizer que é o som de um gigantesco e colossal MARACÁ. Portanto você o nativo com um maracá na mão, ao faze-lo vibrar, passa a ser uma representação simbólica dos fenômenos que deram vida a tudo que existe. ou seja, é DEUS, de alguma forma compreensível.


“Podemos nos ver como seres diferentes, assim como vemos as diferentes sementes no interior do maracá. Mas podemos soar harmoniosamente; num mesmo sentido”.

“A terra é a cabaça, e as árvores são os sons das sementes contidas no seu interior”.

O principio da incerteza Quântica, onda-partícula, com o Maracá, a duvida se tudo é onda , pois quando captamos a onda perdemos a partícula, e quando captamos a partícula perdemos a ondas, e que se resume mais ou menso no seguinte; Você pode olhar para um remanso e vê um banzeiro de água vindo, ou olhar para o banzeiro e vê um porção de partícula de H2o em movimento.
Boa parte da complexidade que envolve as especulações nesse sentido se desfazem quando partimos para entender o que vem a ser um Maracá na sua essência.

- O MARACÁ PARADO REPRESENTA A PARTICULA
- O SOM QUE ELE PRODUZ É A ONDA
- O QUÂNTICO É O MARACAZEIRO; O MOVIMENTADOR.


O guia movimenta o seu cajado, batendo três vezes no chão. É o ato de consagração do solo sagrado da floresta. E inicia com a decodificação de algo que ele define como as sonoridades lendárias. Nos entrega um texto com o título que sugere um aspecto piramidal, de onda, de um grito que vai crescendo. E nos explica que esses detalhes é o que caracteriza um autentico compositor de lendários, ele envolver tudo que esteja ligado ao objeto de sua personificação, para torna-la brilhante, incomparável e assim eterniza-lo. Mas avisa que ninguém é obrigado a ler os escrito lendários, e onde quer seja, essa decisão fica a critério de cada um.









O

DO

GRITO

MAPINGUARIANO



O grito do ser Mapinguary na grota do espelho d’gua, é simbolicamente, a reação característica da consciência do nativo que desperta para realidade meio ambiental cultural distorcida em que vive.
O local onde é dado esse simbólico primeiro grito, ganha diferentes contornos e detalhes ambientais, que traduz o momento lendológico escolhido para ser vivenciado pelo LENDOLOGO.
Um dos argumentos lendário que expõem detalhamentos desse ambiente, diz o seguinte:

“Na grota úmida do espelho d’gua, reina o silencio natural. Ai os anciões usam como meio de comunicação, pequenos gestos vibrantes simbólicos significativos, algo que pode ser definido como; gestual telepático, extra-sensorial e etc."
A sonoridade vocal raramente é usada nesse ambiente, devido a hipersensibilidade do todo contextual cósmico espacial atemporal Lendológico em que ela está inserida.
É muito comum nas narrativas, principalmente dentro do movimento Lendacreano, que no inicio do “novo século” passou a orienta-se pelos seres lendários da era das águas, a citação desta localidade lendológica, pesquisadas e estudada com os zelos dos princípios que orientam, principalmente os personificadores mapinguarianos. Interferir na harmonia do lugar, significa interferir de alguma forma na harmonia cultural dos aldeados, e conseqüentemente na rotina da comunidade.”
Outro trecho que traduz o ponto de vista testemunhal imemorial do significativo grito do ser mapinguari é o seguinte :
“...O grito do jovem líder no espelho d’água, provocou um imenso clarão, que aos pouco foi se desfazendo em pontos brilhantes, que seguiram em todas as direções celestes da grota. Veio a escuridão, e com ela, um frio congelando tudo era alcançado pelas vibrações do grito do jovem líder. Escaparam desse grande congelamento primordial mapinguariano, os jovens anciões lendários que estavam mergulhado nas águas mornas do espelho sagrado, exercitando contemplativos suas personificações aquáticas lendárias, seguindo as estruturações ancestrais orientadora, dos sábios herdados tribais preservados. Porem, no instante do grito, alguns estavam com metade do corpo fora das águas, outros tentaram mergulhar rapidamente para se protegerem das vibrações, mas a parte inferior de seus corpos lendários personificados foram alcançados pelas vibrações. E ficaram parte humanos parte ser lendário personificados.
“Alguns jovens anciões conseguiram salva a tempo, pequenos olhos d’água da fabulosa jóia nativa do lendário reino das águas, e graças a elas conseguiram sobreviver e transitar na dimensão congelada depois de passada as vibrações congelantes. Mas não conseguiram evitar que a penúltima gotícula ficasse congeladas na parte superior da grota, e esperam ansiosos o seu descongelamento, para que o lendário rio de água viva volte novamente a correr com os conhecimentos e os saberes lendológicos de todas as tribos; de todas as eras...”
A baixo uma das observações feita pelo compositor da narrativa lendária acima :

“É graças a gotícula salva pelo seres lendários no estágios aquáticos, que as narrativas lendológicas voltaram nos precisos instantes de suas manifestações sagradas eternas, seqüenciadas, tornando possível o retorno do pensar imaginante libertário, lógico e compreensível dentro do contexto psico-racionalista em que estava naufragado o nativo florestano.”
Muitos personificadores mapinguaristas afirmam, que o grito do ser mapinguari nativo florestal, é o que mas tarde veio a ser traduzido como “verbo” iniciador primordial das bio-formalidades genéticas, e das formas minerais vibratômicas perceptíveis e imperceptíveis bio-visuais.
Outros traduzem, como sendo a demarcação do instante em que o ser imaginante se egocentraliza, tomando consciência do poder de reagir as influencias do universo externo o qual vivencia e interage bio-formalmente.
“No silêncio nos igualamos de alguma forma”.
A explosão de luz que fragmentou-se em pontos brilhantes dentro da grota, trazendo em seguida a escuridão, é um argumento bastante utilizado pelos mapinguaristas, nas defesas das origens ligadas ao Mapinguarismo.”
O silêncio presente na narrativa, representa simbolicamente os seres da aldeia em estado contemplativo interno de aprendizado e comunicação; num estágio em que utilizam-se ações gestuais e musicais como meio interativo de comunicação tribal. Nesse ponto, a chegada da escuridão dentro da grota pode ser traduzida como o arrependimento, o reconhecimento da ignorância, que faz parte do percurso, e da rotina da aldeia, presente na entrelinhas do fragmento lendário O SER MAPINGUARY, no intervalo em que se dá os exercícios interativo do jovem líder com os aventureiros, o que cria um novo universo de interpretação; o acordando para algo novo, dentro das possibilidades reais de forma e interpretações do que vivenciamos, algo que é característico nas variações do Mapinguarismo. Que não é nem passado, nem presente e pode ser ou não o futuro. Entrando para o plano do fantástico, maravilhoso, extraordinário e etc.
“O silencio e a escuridão tem aspectos manifestativos semelhantes. Na escuridão olhando do plano bio-visual, todas as coisas são iguais. No silêncio da verbalização oral, olhando do plano bio-auditivo, analogicamente podemos afirma que somos todos iguais estando num mesmo ambiente contextual. Somos só seres humano quando silenciamos nossa consciência e as nossas psico-realidades interiores, para o ambiente externo.”
“Quando reagimos ou expomos verbalmente o que pensamos, nos diferenciamos dos outros; expomos nossos contornos intelectuais individuais; destacamos-nos como individualidade; particularizamos-nos; tornamos visíveis os nossos contrastes sentimentais emotivadores. E assim como a luz ao invadir a escuridão, revela detalhes e formas que ainda não eram bio-visualmente perceptíveis. Temos o nosso momento de Deus. É na oratória, que os nossos aspectos singulares complementares de caráter e personalidade, condicionados historicamente, se destacam comunitariamente”.

O som, assim como a luz que invade a escuridão da grota úmida, acentua pormenores do que existe no local; detalhamentos que só assim podem serem identificados. Que é a essência do manifestante lendológico. Isso arrazoa a existência de outras máximas mapinguaristas que dizem:
“A palavra (o som, o verbo) é a luz do silêncio.” Ou “O silêncio é o contexto cósmico passivo que dá a possibilidade da palavra existir, e vice e versa.”
“ao vibrarmos, nos tornamos perceptíveis ao externo; nos fazemos luz ao exterior.”
Dentro do Mapinguarismo encontramos algumas decodificações quanto a nomenclatura MAPINGUARI que merecem serem destacadas. Normalmente essas decodificações nomenclaturais seguem um padrão de associações de significados, aparentemente isolados que vão se complementando, algo que é bastante utilizado pelos do personificadores Sementista:
“A letra ‘M’, que a primeira letra na nomenclatura Mapinguari, simbolizar a onda no universo esotérico; o vibracional manifesto gráfico simbolicamente representado, é o vibrante que torna-se palpável, contactável e imperceptível bio-visualmente. Nisso se assemelha em características, aos Seres Mito Lendários Nativos Florestais Acreanos, as estruturas lendológicas que aqui denominamos de: Mãe das Água, Bôto, Mapinguary, Curupira e etc. Sem a vibração verbal, o ser mito lendário é algo latente, vibrante; onírico, mas comprovadamente sólido, com sua essência imaginante estrutural, culturalmente resistente.
Com a verbalização da nomenclatura Mapinguari, condensamos a principio, o intuitivo ancestral formal compressivo, que é representado simbolicamente na letra “M”. É assim que o ser lendário se manifesta, transita e sobrevive personificado nas narrativas nativo rural e urbanas. É através da vibração do boca a boca; dos contadores de histórias da floresta. É através da atividade sonora vocal cultural nativa florestal da contação de história que ele ganha vida. E dentro do contexto lendológico, “ganhar vida”, esta associada ao ser liquido, Água.
A palavra Água como já vimos, tem no seu inicio a letra ‘A’, que é a primeira representação geométrica sonora do alfabeto, o alfabeto que é um conjunto de variados símbolos geométricos, os quais utilizamos para traduzir as sonoridades verbais, graficamente. A letra ‘A’ é o que dá vida; que possibilita a primeira silaba do nome ‘MA’PINGUARI.

Como dizem os Uiaristas; A Água, no seu aspecto visível transparente color e incolor, é uma parente muito próxima da vibração etérea e onírica formal que estrutura os seres lendários, que os condensa vibrantemente, que os faz seres oníricos imortais, sobrevivente atemporal, extra-sensórios; é o que os traz a luz da consciência do ser imaginante criativo e ilimitado que somos. O ‘A’ no seu aspecto geométrico, é tido como a representação do primeiro degrau da torre das sustentações fonéticas lingüísticas humanas congeladas. Na letra “A”, podemos ver o primeiro degrau de uma escada que segue em direção ao infinito. Bem como também, um triângulo suspenso por duas colunas.
A palavra “ARTE” que esta associada a capacidade criativa; o imaginante se externando sem um limite preestabelecido. Começa com a letra “A”.
Como dizem os lendologos:

“Somos imaginantes, e não racionalizantes”.

"Pessoas com acentuada atividade criativa tem mais disponibilidade de material subliminar dentro do campo externo perceptível. Torna os objetos em acontecimentos artísticos, os isolando dos acontecimentos da vida , das rotineiras associações nas quais rotineiramente se apresentam a maioria das pessoas. "

A letra “m” minúscula, desde a antiguidade é tida como símbolo das ondulações na superfície da água, por isso é usada como representação simbólica oficial do signo do zodíaco AQUÁRIO. E esse “MA” no inicio da palavra MAPINGUARI, dá a ele o status de ser lendário da era das águas doces da floresta, não é por acaso que ele é considerado uma das grandes vedetes da linguagem cósmica dialética lendária nativa florestal, está estruturado para está função.

O “M.A.” nesse contexto lendário da nova era, é traduzido como as letras iniciais de “Milênio das Águas” ; “Movimento das Águas” ; “ Milênio de Aquário” e etc.

O ‘M’ dentro do lendarismo, simboliza a onda; a vibração que torna possível a percepção de algo inalcançável bio-visualmente. O ser Mapinguari depende da verbalização, da sonoridade oral para se fazer perceptível oniricamente. O que faz com que o seu compositor narrativo lendário se assemelhe a um deus onipotente manifesto, o criando através da oralidade e narrativamente acompanhado e dando vida a suas ações.
A letra “P” de PINGUARY, representa o Principio gerados pelo “MA” , o Palpável a parti dele, a PERCEPÇÃO, a consciência de algo e a ‘P’ercepção, disto na prática. É a parti do movimentos da águas que nos dá vida, que chegamos a esse Principio, ao Ponto iniciador, o movimento que começa um Pingo d’água. Como dizem os camalionista: Quem mora no fundo da água a ultima coisa que vai descobrir é que existe água. Portanto, o “P” representa essa Percepção, que está ligada ao invisível vibrante, simbolicamente representado pelo “m” minúsculo, e o físico palpável representado pela letra “A” de Água. É o esprito do entendimento do imaginante, flutuando sobre as águas, Ou seja, sobre a origem da vida na terra. Esse pensamento que está ligado a algumas posições Uiaristas, como por exemplo uma bastante polêmica que diz:
“A crosta terrestre é o grande meteoro que chocou-se com o nosso globo líquido, e precisa ser extraído”.
E lembrando os IARAISTAS: “Um Igarapé; um rio; um dilúvio, começa com um pingo d’água.”
O “P” de PINGO seguindo da palavra ARY. A palavra ARY tem origem hebraica, e significa o mesmo que leão, ou seja, o rei das selvas, isso faz com que dentro desta abordagem lendológica, esses fragmentos silábicos sejam traduzidos, como o pingo d’água que deu inicio o movimento da era das águas florestana, o comandante, “o pingo d’gua rei das selvas.” que também pode ser escrito como PIN'AGUARY.
Não é por acaso que um PINGO D’ÁGUA seja o símbolo oficial da LENDOLÓGIA. O pingo é uma das muitas chaves de acesso e introdução ao pensamento nativo florestal dialético compreensivo universal lendológico. (...)
A letra “I” dentro desse contexto decodificativo esta ligada a ‘i’ara, a Mãe das Águas; aquela que deu origem a água, e que portanto tornou possível a vida em nosso planeta. E nesse aspecto o “I” está relacionado ao instante em que o ser busca resposta do porque da vida; de quais os propósitos da existência; qual a razão das coisas serem da forma como se apresentam. A palavra Mapinguary também pode ser escrito com “Y”, esse sinal alfabético está ligado a uma grande variedade de significados, mais acentuadamente aos relacionados aos lendários festeiros das águas da região amazônica. Podemos encontra-lo no caminho grafosimbolico do aperiódico Ouryçom, o rito tribal florestano, que tem variações como a LENDA POP FESTA que acontece no final da caminhada.
No contexto Mapinguariano existe uma grande diversidade de traduções simbólicas lendárias. Entre elas vamos encontrar os famosos acrósticos. Que nos revelam uma outra realidade que está embutida nas variadas forma de escrever a palavra MAPINGUARY, MAPINGOARY, MAPINGUARI E ETC. Vamos ver que todas elas tem uma razões pra ser como são.


Caminhando até a próxima parada, o guia narra algumas lendas muito interessantes, entre elas, a lenda das malocas e dos cocas indígenas. Que diz serem extraídas de uma coleção de contos nativos conhecida como AS HISTÓRIAS MÁGICAS DO REI DE MARACÁ: