segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Realismo Lendológico - Parte IV (a)

Clenilson Batista

O Caminho Sagrado da Floresta

O GRANDE MARACÁ


“Uma mudança na estrutura, ou troca de semente no interior do Maracá, muda toda a estrutura do cosmo. "

Ainda caminhando dentro da floresta somos orientados a colher as sementes que encontramos pelo caminho, e seguimos até uma cabana estilo indígena, que tem uma coluna de mais ou menos um metro e meio de altura no centro, com um globo terrestre feito da casca esférica de fruto de Coité, exposto encima. A estrutura lembra um grande maracá. Do lado do sol poente, uma vertente de água transparente jorra passando por meias cuias que transbordam formando uma cascata.
Ao ritmo do maracá, o guia canta e dança evocando as forças da natureza. Uma nativa representando a mãe natureza entra na cabana e retira a parte superior do globo. Na parte inferior contem salada de frutas adocicada com mel de abelha, que é servida a todos.
O guia pede que procuremos entre as meias cuias expostas num altar, uma cuia que se encaixe a cuia que temos nas mãos e depositemos nelas as sementes que colhemos.
Nesse ritual as sementes representam os sentimentos humanos, somos orientados a associa-las aos nossos sentimentos particulares e em seguida transferi-las para a cuia que trouxemos. Feito isso o guia pede retirar-mos da cuia as sementes que para nós representam os sentimentos que humano que não são benéficos para interagir com outro ser humano, e as depositamos na cuia retirada do altar. Vamos até a vertente e jogamos as sementes selecionadas na água corrente. Retiramos um pouco de água com a mão e deixamos que a água goteje encima das boas sementes que ficaram em nossas cuias. E assim, com ligas de látex coloridas unimos as duas meias cuias, e construímos os nossos maracás sentimentais particulares.



MARACÁ - Maracá é um instrumento musical ritualístico indígena, utilizado por pajés e xamãs. Na amazônia é utilizado pelos ayuasqueiros no acompanhamento dos hinários nas sessões de trabalhos espirituais. Músicos de todas as partes do mundo utilizar o Maracá para marca ritmos melódicos.

* Até o começo do terceiro milênio os ayuasqueiros acreanos construíam seus MARACÁS utilizando na parte superior, latas metálicas produzidas por industria de leite e outros laticínios. Dentro do período do lendários Rio Branco, no contexto conhecido como milênio das águas, o Maracá é construído com o fruto de cabaça seca e sementes diversas.

Uma das traduções conhecida para a palavra MARACÁ, é de origem indígena e vem do estado de Recife, que quer dizer "a pedra que fala".
Nas narrativas lendologicas, com freqüência vamos encontrar o Maracá sendo utilizado pelo FABULENDÁRIO Rei de MARACÁ, o grande maracazeiro anfitrião dos “LENDÁRIOS NATIVOS FESTEIROS FLORESTANOS", o rei da lendária aldeia dos contadores de historias da floresta. Um dos argumentos narrativos lendologicos de fundamentação e sustentação de origem e autenticidade do Rei de Maracá, dentro do lendologismo é o seguinte:


O NATIVO LENDÁRIO FESTEIRO

“ O jovem nativo mergulhou no igarapé, e ao emergi ouviu o som de algo caindo na parte de cima do barranco. Olhou e viu um fruto de cabaça seca, presa entre as ramas. Curioso, ele saiu da água e com um pouco de esforço subiu o barranco e pegou fruto. Mas ao pegar escorregou e deslizou pela encosta, e foi pará na beira do igarapé, onde ficou tentando se equilibrando para não cair na água, emitindo com a boca sons característicos de quem busca o equilíbrio (ô,ô,ô,o,o,o...) e ao mesmo tempo balançando os braços, fazendo com que as sementes da cabaça se soltassem e entrassem em atrito com a casca dura do fruto produzindo vibrações sonoras. Evitou a queda na água, e pé na beira do barranco, olhou para fruto em sua mão e começou a sorri, lembrando do que havia feito para se equilibrar. Instintivamente veio a idéia de repeti novamente o que acabara fazer acidentalmente, e começou então a balançar o corpo, movimentando os braços, produzindo sons com a boca seguindo o ritmo das sementes da cabaça. E ficou tão envolvido com a situação que entrou numa espécie transe, passando a variar movimentos e sonoridades orais, até ficar exausto. Descansou um pouco, e feliz da vida voltou para aldeia. Chegando lá, chamou as criança e repetiu para elas o que acabara de fazer na beira do igarapé. As crianças ficaram encantadas e rapidamente correram para floresta e colheram frutos de cabaça secas para fazer a brincadeira. Não demorou, o terreiro estava cheio de criança gritando, dançando e tocando seus maracás. Os nativos mais jovens foram os primeiros a se aproximarem para ver o que estava acontecendo. A brincadeira estava tão divertida que eles não resistiram e começaram a dançar e cantar no ritmo dos maracás das crianças. Foi sem duvida um dos dias mais felizes na aldeia, e ficou marcado para sempre na memória de todos. No dia seguinte, logo cedo os nativos fizeram um encontro no centro da aldeia, agradecendo o espirito do igarapé pelo presente que enviara através do jovem, e em homenagem ao grande espirito das águas eles repetiram novamente a brincadeira, dançaram e cantaram até o anoitecer. E a parti daí, todos os dias eles reservavam uma hora para brincar com os maracás no terreiro da aldeia, e com o passar do tempo foram criando novos instrumentos, novas formas de cantar e dançar, Aos pouco a noticia da brincadeira com os maracás foi se espalhando pela floresta, passando a ser conhecida por outras aldeias, e não demorou, passou a fazer parte do cotidiano de todas as tribos do mundo. ”


Vamos abrir um parentese para analisar essa narrativa pelo prisma lendologico. Nela encontramos referencia ao igarapé, a água, ao mergulho. Esses são elementos típicos dos Uiaristas e Botoistas. Portanto, podemos dizer que essa narrativa é um argumentário Uiarista, quando olhamos pelo aspecto em que a água surgi como elemento cênico; o mergulho do nativo, e no sentido de que ela dá vida a algo, que narra um acontecimento primordial, no caso, a origem da música instrumental, do canto e da dança. Para os Uiaristas a água representa o começo de tudo, o começo da vida. E como voce pode ver, o texto narra a origem do lendário Maracazeiro; da musica instrumental; do canto e da dança. Isso é Uiarismo puro. Já o especto Botoista estar presente em toda transformação que se dá com o personagem principal depois que ele sai da água, e tudo o que ele proporciona aos membro da tribo com essa transformação. Ou seja, é encantado, e com seu encantamento encanta os outros. Estar evidente a mudança de realidade que ele propociona a sua tribo, a transformação social vivenciada pelos nativos com a introdução da música, do canto e da dança no cotidiano da aldeia. O aspecto sementista é evidente no sentido em que vemos as sementes possibilitando a produção do som, que é o fio condutor transformador, o provocador da excitação do jovem nativo o levando a repetir o ato que acidentamente produzira. E também podemos dizer que o sementismo se apresenta ai na sua forma classica, quando vemos germina de um único ser algo que dá frutos, que geram outras sementes semelhantes, que gera outros frutos identicos sem perde a sua essência primordial.

O MARACÁ é um livros sagrados, um herdado ancestral imemorial, com função iniciática, entre outras coisas, ajuda os iniciantes e compositores lendários desenvolverem e entenderem o que vem a ser o ser, a centralizarem-se dentro do contexto celeste em que vive. É com o maracá que os nativos alcançam a consciência conhecida como auto supremalizante; compreendem-se como imagem e semelhança do criador de todas as coisas palpáveis perceptíveis.

Obs. Na primeira parte desta série são expostos alguns detalhes dessa abordagem.

AO MOVER O MARACÁ, As sementes em atrito com a casca do fruto da cabaça, produz a matéria vibrante definida como SOM. Ou seja, do CAOS representado pelas diferentes sementes depositadas no interior da parte esférica do instrumento, tem origem uma energia harmônica audível. É assim que analogicamente através do maracá, o nativo vai acessando os conhecimentos e saberes que possibilitam a auto supremalização, partindo do principio que tudo que observamos e vivenciamos é o resultado de micro partículas vibrantes em choques, gerando infindas formas palpáveis vibrantes; o todo perceptível, assim vê esse todo existente como o som de um gigantesco e cósmico MARACÁ. Toda vez que o nativo lendologico faz vibrar ou vê alguem fazer vibrar um Maracá, ver ai manifestação simbólica do principio criador; a micro tradução do fenômeno que deu vida ao todo perceptível existente. Ou seja, a representação do DEUS criador das energias condensadas e vibrantes perceptíveis; o repetidor de um ato imemorial primordial criativo que está além da compreensão, da existência de passado, presente e futuro.

Os sementistas costumam dizer que “A terra é a cabaça, e as árvores são os sons das sementes contidas em seu interior”.

Dizem eles que: “Podemos nos ver bio-esteticamente diferentes, assim como são as diferentes sementes no interior do maracá. Mas assim como acontece com maracá, podemos nos movimentar juntos, e como as sementes produzir algo harmônico, uma musica planetária humana.”


O principio da incerteza quântica vagueia na duvida se tudo que percebemos é onda ou é partícula, ou onde acaba a onda? Onde começa a partícula? Com o maracá podemos chegar a conclusões que de alguma forma pode nos ajudar a compreender essa questão.
Dizem os estudiosos que quando captamos a onda, perdemos a partícula, e quando captamos a partícula perdemos a ondas, dai que vem o que eles chamam de incerteza quântica, ou seja, a impossibilidade de afirmar se tudo é onda ou é partícula, ou onde termina uma e começa a outra. Por exemplo: Olhando para o rio podemos ver um banzeiro de água em movimento, ou vê um porção de partícula de Hidrogênio e Oxigênio em movimento, ou seja, quando captamos o aspecto onda da água, perdemos de vista o aspecto partícula. E quando captamos o aspecto partícula, perdemos a onda.

* Na verdade os termos “partículas” e “ondas” referem-se a conceitos clássicos que não são inteiramente adequados para descrever fenômenos atômicos. Que pode apresentar aspectos de partícula em algumas situações e aspectos de onda em outras. As partículas podem ser ao mesmo tempo ondas. Mas não são ondas reais como ondas de água ou ondas sonoras. São “ondas de probabilidades”, quantidades matemáticas abstratas com todas as propriedades características de ondas.

Alguns lendologos de tendencia maracaista resolvem a complexidade dessa especulação utilizando como ponto de apoio o Maracá, da seguinte forma:

- O MARACAZEIRO; O MOVIMENTADOR DO MARACÁ. - O Feminino; o ser produtor; o que estar entre a onda e a partícula.

- O MARACÁ PARADO REPRESENTA, A PARTÍCULA – O Masculino.

- O SOM PRODUZIDO PELO MARACÁ, A ONDA – A criatura; O produto.



E nessa questão alguns sementistas costumam dizer que: “A semente é a partícula, e a arvore é a onda que finda na partícula (semente), e o quântico é o todo onde se dá esse fenômeno, no qual o nosso ser é parte essencial.

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